sábado, 8 de setembro de 2007

Fui abandonada à beira do precipício
Fui deixada numa viga de madeira
Pendurada por um cordão
Fui deixada para trás como resquícios de lama
Eu, as teclas de um piano
Ele, o apanhador de borboletas
Ouço a voz que sai do rádio
Chora letras e melodias cortantes
Navalhas enferrujadas fincadas em minha pele
Eu deixo vir
A vida é uma rotina
E doer, dói...
Todos os dias;
Dos amores só restou a música e o pó
Das patas de um manga larga castanho
Um aí, que carregava o desertor
O bandoleiro

Vou sair agora
E beber do veneno sozinha
Que nessa cidade não há ninguém
Disposto
A dividir comigo
Uma taça de cicuta

Vou de perto tão longe
Saracotear a barra do vestido
Debaixo desse céu intenso azul

Vou andando sem um chão
Vou voando pelo vácuo do encanto
De ter ainda pés pregados no asfalto quente

Vou deixando meu laivo de desalento
Um livro na bolsa
A bebida que me dá frenesi
Um rosto morno do sol
Umas idéias na cabeça
E umas dores no peito aberto

Eu vou por aí
E se me encontrar numa via qualquer
Acene e passe adiante.

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