segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Negras lágrimas
Ancestrais
Como petróleo
Jorram sem me esforçar
Pelos canais abertos
Da desilusão

Negra desilusão!
Viscoso líquido 
Que resvala
Das fendas
Donde dantes
Emanava apenas
Amor...

Meu peito queima
A cada golpe desferido
Meu ódio consome em chamas
Cada milésimo de segundo
Ao sacudir dessa dor
Que não se pode recordar
Por se fazer presente

Entretanto,
Ergo-me
Inflo-me
Sobre todos os cacos
Pisoteio
Este mal
Bebo este fel
Me refaço do caos
Eu sou o caos
Que só o amor entende.

sábado, 26 de outubro de 2024

O chão se abriu
O ar abafado do dia 
Roçou minha tez fria
Suave conforto
Meu coração palpita?
Em meu peito habita
Embora golpes ainda o agitem...

Emerjo telúrica
Agarro a cauda de um cometa
Aventura pelo céu
Pés fincados no planeta.


Obrigada, querida amiga, Priscilla Presta.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Quando o que restar
For escuridão 
Lembra que o oposto
É luz
Lembra que é dual
Busca um ritual
Uma prece
Um mantra
Canta!
Dança suas dores
Lança essa maldição 
Para os quintos dos infernos
Quem és tu?
O que te move?
O que te fez sorrir?
Conecta
Fecha os olhos 
Deixa vir
Essa luz
Esse calor
O amor
Esse bálsamo

Que seja hoje,
Este dia. 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Celebrar a vida
até quando dói vivê-la
Se reconhecer forte e capaz
Ainda que as limitações gritem
Sobrepor a tristeza
Com a audácia de senti-la
Triturar a dor
Para adubar o que há de florescer

Estar aqui e agora é coragem
Ficar é escolha
Espaço é necessidade
Fluir é vital
O coração dispara,
Porque viver se faz urgente.

sábado, 4 de maio de 2024

Sobre inteireza

Agradeço pela troca
Sou quem sou
Porque trocas comigo
Sem essa ponte
Não jorra a fonte
Sem esse abraço
Não há conforto
Sem você 
Eu não há.

De mim ninguém me tira
Quem sou não se pode dissolver
Em brumas incertas
Em visões dispersas

Aquilo que trago comigo
Aquilo que sou
Aquilo que divido e compartilho
Só se multiplica

De mim ninguém tira
O que há de essencial
E potente
E perfeito
O que eu posso vazar
O que transborda


O que meu instrumento toca
A canção do coração
É
Apenas é
E nada pode abafar
Ninguém pode silenciar
A voz do coração
O amor que viceja
E emana infinito.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Quando um corpo
Tomba
E a vida
Expira
O horror é 
Relembrar
Que a morte
Há de chegar
No meio do banho
No pão ainda sem manteiga
Na chamada não atendida
Na pressa pro trabalho
Num fim de semana solitário 
Na louça suja da pia

Quando a morte bate
E abate
Só nos resta olhar para a vida
E retomá-la do ponto de dormência 
Reanimar, despertar para o que
Realmente importa. 


Foi bom te conhecer, Mafê.

Qual é o sopro
Que anima
Seu ser
Pela manhã?

sexta-feira, 22 de março de 2024

Quando dói
E me manter firme 
É impossível 
Eu me rasgo
Em mil pedaços 
Me esfarrapo
Até encontrar
A linha central
Que insiste em pulsar

Recolho meus trapos
E com cada tecido roto
Endireito a urdidura
Me refaço em tramas sortidas
Dos despedaços

Sou novo tecido
Amasso, sim,
Mas sou resiliente
E a cada vez que me rasgar
Me coso, me remendo, me refaço.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Se já mar
Seja amar
Seja mar
Se já amar.
A graça de trabalhar
num retalho e que
nenhum tecido virgem
pode alcançar
Poema lírico
Desafio
Do lixo
Ao luxo
Das delicadezas
Que pretendo
Com minhas mãos.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Quando se sentir perdida,
sem saber qual caminho tomar,
recorda de onde veio
e em casa estará.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Me conhecer morte
Me reconhecer cíclica
Abortar o que não viceja
Transmutar o que limita

Acontecer fatal
O inexorável da existência 
Expansiva vida
Jorra e transfigura-se.



Eu digitei "me conhecer melhor" em uma autoanálise, mas o corretor mudou para "me conhecer morte", então, nasceu esse poeminho, que resume a autoanálise e os acontecimentos derradeiros.