domingo, 30 de novembro de 2008

Desço os degraus e pulo no cinza
Os muros pichados de vermelho-sangue
Uma águia de metal no céu borgonha
Crianças soltas à uma da manhã
Domingo, e ainda perambulo pela cidade
Chego à minha rua, amarro o cadarço solto
Sem olhar para trás;
Passo ao lado do trio que fala da "mina"
Moleques do gueto,
Gato gordo branco e doirado,
Assustado na calçada
Lembro que isso é cousa de Pessoa
Tranco a porta atrás de mim,
Sirvo um pouco de ração no pote
E elas arregaçam os dentes, gritam,
Se espanam e espirram de felicidade
É sempre assim, quando abro
A lata de panetone que contém um saco com os dizeres:
"Ração para filhotes".
Mas elas tem onze e doze anos!
E eternas crianças que são...
Os fogos pipocam n'algum bairro vizinho
E Bel apoia as patas trêmulas em minhas coxas
Com as orelhas enormes em alerta,
Só adormece sossegada quando no colo
Focinho enfiado entre minhas mãos.

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