Hoje eu fiz sopa-creme de mandioquinha
Temperei com dill e sal de lágrimas
Se você quiser eu divido
Tem o suficiente pra nós dois
Não tenho palavras
Não há meios de explicar
O que sinto é estarrecedor
Meus olhos inchados de tanto verter lágrimas
São o default
Meu rosto no espelho é de uma estranha
De alguém que não compreendo o que olhos tão distantes podem significar
Eu olho inúmeras vezes pela janela
Sonho sobre qualquer coisa simples que me saque desse lugar
Mas eu não consigo me mover
Estou paralisada nessa dor
Incrustada nesse buraco escuro e frio
E você dorme como quem ao sol quente
Nada percebe
Não sentia a ponta dos dedos das mãos ao picar o dill congelado
As borbulhas da sopa eram vulcânicas como minha dor
E espirravam por todo fogão, pelo chão, paredes...
Eu mal pude evitar me queimar
Alterno entre fúria e depressão
Já não tenho forças para argumentar
Já não sei o que fazer com essa ausência que me draga como um abismo entre nós
A dor não me deixa perceber que meus pés sem meias estão roxos de frio.
Você dorme...
E quando desperta por um momento ou outro
Usa óculos escuros
Não me enxerga
Deve ser essa escuridão
Que me gruda
Eu tateio buscando te alcançar
Arrasto o cansaço diário
As tentativas de esperançar
O melhor que posso sacar dessa lama e lodo que me transformei
Parece irreparável
Entre as horas você oscila
Entre me acusar e me acariciar
Eu já não sei quem sou nessa esquizofrenia afetiva
Eu quero lançar uma corda que possa nos içar com segurança
Desse poço úmido
Mas o mofo escorregadio
Me prega peças
Eu fico no limiar
Entre me deixar afundar pelo cansaço
E cravar minhas unhas nessa corda
Sozinha não consigo
Eu tenho medo de me prender nela e me sufocar
Mais um acidente não seria de se surpreender.
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