domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ela canta um blues
Arranhado na voz macia
Do choro e da solidão
Ela canta os amores
E as preces
Para que Deus a ajude
A suportar o sangue que se esvai
Ela toca nas teclas do piano
Que satisfazem o desejo
De um tendão ou um ligamento
Arrebentado
Ela deita as lágrimas num travesseiro
Para descansar o ódio
E guardar as incertezas
Na fronha de linho branco
E pinta as paredes de azul
Pra elucidar uma tristeza
Que de tempos seca
Se quebrou
Joga os dedos num teclado
Sem letras
E ouve músicas sem melodia
Grita ofensas sem sons
Dorme a insônia no tapete cheio de terra
E assopra os dias para frente
- ela não os quer viver -
E adia, adia...
O eterno desespero de descobrir
Um esqueleto árido
Por debaixo das camadas de gordura e pele
Ela diz o que não é
E ouve se convêm
Quando quem
Faz o que quer
E ela vive, ela vive
Nesse monte de mentiras e socorros
Que não chegam
Mas disfarçam sua dor.

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